28 de ago. de 2009

' Uma Janela Aberta - Não tive tempo.

Não tive tempo, meu amor, não tive tempo!
Para deixar de ter pressa que passasse o tempo;
Para deixar que viesse o tempo de ter tempo,
De esperar e desesperar para ter tempo,
Para viver o momento
Para chorar por dentro,
Não tive tempo, meu amor, não tive tempo...

Não tive tempo, meu amor, não tive tempo!
De reparar que as palavras vieram e foram
Que morreram e renasceram;
Para deixar que fossem apenas gotas de água por cima de mar,
Ar e vento
E pétalas por cima de rosas,
Não tive tempo, meu amor, não tive tempo...

Não tive tempo, meu amor, não tive tempo
Para pensar bem e saber que tive todo o tempo
Do mundo.
Que deixei cair uma lágrima cá fora quando milhares já tinham caído
Lá dentro.
Que tive medo de ser feliz, e fugi, e fugi, e corri até não poder mais.
Que fugi até sentir dor, até sentir paz. Até sentir que o merecia.
Que fugi do tempo que tinha para ter tempo.
E não tive tempo sequer de ser livre na minha entrega.

Mas hoje tenho tempo. Tenho tempo,
De sobra até.
Tenho tempo para te esperar. Tempo para te abraçar,
Para me despir, para te sentir, para inexistir
Existindo.
Hoje tenho tempo e hoje sou amor. Hoje sou liberdade,
Sou toda a cor que destoa do azul do mar,
Tudo o que é diferente mas vai dar ao mesmo.
Sou todo o tempo, todo o tempo.
Sou a luz, sou a sombra, sou a santa e sou a pecadora.
Hoje sou música, hoje sou uma canção.

Danças comigo?

CS

' Uma Janela Aberta - Qualquer.

Sou uma qualquer,
Não diferente de todas as outras
Quaisquer,
Nem diferente de qualquer
Nenhuma.

Sou uma qualquer,
Tão igual por ser diferente

Mas não diferente por ser igual
A qualquer igual ser,
Enfim,

Qualquer alguma.

Sou uma qualquer,
Espero por qualquer sorriso,
Qualquer beijo e qualquer sonho
Em que sonhe que não sou, afinal,
Qualquer uma.



CS

' Uma Janela Aberta - Poema V.

O eco do fundo dos teus olhos
Refunde-me para as sombras do jardim
Que é o teu corpo.

E absorta fujo, escondo-me,
Porque te tenho, porque me tens,
Porque sou eternamente tua.

Mas algures no meio do fulgor
Do teu abraço
Surge um navio prestes a naufragar.
No jardim do teu corpo,
Navega em mar verde,
O navio prestes a naufragar.

Algures no meio de todo este fogo
Que arde num delírio delirante
Surge a minha âncora,
De ferro forte, feio, esquecido
De onde encontra meu porto seguro.

Oh, se o abandono soubesse
Onde encontrar essa estrada
Que me leva...

Se essa voz soubesse
Onde cantar minha tristeza...

Então saberia onde se encontra o princípio do fim
Encontra-se em ti e em mim,
E no barco que te naufraga,
Nas sombras que nos refundem,
No vento frio que se faz sentir
Nesse teu jardim, ao fim da tarde,
Na poeira de um entardecer já antigo...

Sim, o eco do fundo dos teus olhos
Refunde-me para as sombras do jardim
Que é o teu corpo.
E, sós, amamo-nos, como se jamais
Amanhã houvesse.

CS

' Uma Janela Aberta - Poema VI.

Nos recônditos da minha sensata lucidez
Encontro picos excêntricos, excentricamente
Loucos.
Nesta realidade que me prende, que me puxa,
Que me veste, que me insiste,
Revisto-me de liberdade, de abundancia
De luz.
Na amplitude da consciencia,
Na totalidade do ser que compreende,
Dobro esquinas de brilho,
Percorro estradas de extravagância,
Mergulho em mares de vento solto
Até doer.
Nesta alma matematicamente morta,
Estupidamente viva,
Até doer choro, até doer encontro o choro
Que me faz, apenas, ser.

CS

Em cada esquina
Dobra um sino lembrando-me
Que me perdi
E que já me encontrei de novo.
Que morri e que nasci de novo,
Afinal a vida está presente até na morte.
Mas nesta existencia absurda
E absorta. E infinitamente
Finita, humana, complexa, simples.
Anónima e Renascida,
Será sempre apenas e nada mais que
uma vela, num meio de um mar de velas.
Um pequeno ser abandonado por ter que ser apenas
Somente aquilo que nasceu pra ser.. Nada.

Porque serão sempre cópias de alguéns
Em sítios repetidos
Iguais a tantos outros algures
Nas ruas sujas e imundas
Da banal existencia.
E caminham passivas e impávidas,
Massas de
Personalidades
Nomes, ilusões,
Paixões,
E rostos cansados.
Cansa-os ser. Absurdamente
Existir.
Ter maneiras absurdamente diferentes
De igual ser, de igual sentir.

E continuo porém a ser sempre mais uma alma
Presa num corpo despido.
Parte de mim quer fugir, partir
Apenas por não querer ficar.
Parte de mim quer naufragar.

E dói-me tanto naufragar-me.

CS, 14-03-2009

' Uma Janela Aberta - Sou Aquela.

Sou aquela cujo espelho
É fielmente fiel.
Aquela que pinta
Com um doce pincel
Este tão frenético processo
De multiplicação.
Sou aquela cuja alma
Se espraia no mar.
Aquela cuja alma
Implora por brilhar,
Mas sem fulgor nem paixão.
Ah, sou aquela e aquela e
Aquela ali,
Aquele abrir de rosa à espera
De um contemplar
E mais
Aquela, aquela,
Aquele anseio de alma
Cheio de mudos ais...
Esta. Cuja imagem se esqueceu
De retratar.

CS

' Uma Janela Aberta - Tela.

Comprei esta tela branca ao preço do silêncio...
Quero pintá-la. De transparente, talvez.
Choveram vitrais perfumados
E ideias coloridas.
Mas sujaram-me a tela de um Humano horrendo !
Abandonei-me, então, de sonhos,
Por serem tão Humanos. Queimei-me em velas
Até me perder numa bruma.
Mas... shh ! ainda oiço !
As auréolas dos anjos a cintilar !
Ainda escuto ! as canções tristes que me alegravam.
Os girassóis, o sol, o céu, as estrelas, a lua.
Ainda me vejo. Em douradas pradarias.
Ah ! e as casas de madeira...
(ainda sinto a brisa, e por saber senti-la sinto ainda que nunca
Haveria de o ter feito).

Hoje, escondi-me. Abandonada e absorta
De toda a luz com que fui abençoada, outrora.
Sou como uma flor que murcha sem sol,
Por não haver vida.
Quis tão pouco. E era tanto para este Mundo:
Tão pequeno !
Despi-me e, nua, pintei-me de Humana nesta tela.
Alheei-me. Pintei o alheamento
No silêncio. Nas palavras não ditas
Desenhei jardins, e flores, e sorrisos,
Com lágrimas escondidas.
Ao fundo, uma catedral. Olha os vitrais ! antes perfumados, agora
Obscuros. Secretos.

Pintei a tela de Humano.
Ela canta, hoje, o silêncio.
Esconde um pranto cego.
O som dos sinos sai calado.
E eu, Deliro !

CS

' Escrita por Associação Livre 3

Não quero tentar
Não quero conseguir
Não quero explicar
Não quero deduzir
Não quero entender
Não quero perceber
Não quero analisar
Não quero interiorizar
Não quero saber porquê, mas sei, mas tento, mas quero, mas explico,
Mas deduzo, mas entendo, mas percebo, mas analiso, mas tento tentar,
Tento querer, tento conseguir, tento explicar, tento deduzir, tento entender,
Tento perceber, tento analisar, tento interiorizar, tento saber
E afinal não sei tentar nem sei conseguir nem sei explicar nem sei deduzir
Nem sei entender nem sei perceber nem sei analisar nem interiorizar
Nem saber porquê
Porque é tudo inconcebível, é tudo inexplicável, é tudo indutível, é tudo imperceptível
Porque é tudo non-sense é tudo um absurdo é tudo um não vale a pena.
Porque é tudo um fingimento.

CS, 29.08.2008

' Uma Janela Aberta - Silêncio (prosa poética IV)

O inesquecível irrespirável. O nó que dá na barriga O suspiro e o desejo de um dia de um dia poder vir a ser tua. É isso mesmo, quando passas. É isso mesmo, quando te vejo- Quando os nossos olhares se cruzam. No desejo patente de nos termos de nos amarmos. No desejo de sermos um do outro, de nadarmos infinitamente no mar das promessas perdidas, das juras esquecidas, das palavras ditas e reditas e apagadas, que apenas permanecem na memória dos sons, dos instantes, das imagens, de ti, de mim, de nós, do tudo e do nada, do nunca e do para sempre, do sonho, da fantasia, de acordar no meio da estrada que nos vai levar ao horizonte desejado, ambicionado, sonhado pela nossa inocência. E as lágrimas choraram-se, na pedra fria caíram, mas os risos ouviram-se no eco da lembrança. Palavras, jurar-te e prometer-te, pedir-te, declarar-te, palavras palavras, palavras em vão! Silêncio.....as nossas bocas vão-se juntar e o mundo vai parar. Silêncio... silêncio.

CS

14 de ago. de 2009

' Uma Janela Aberta - Moon.

White moon
So lonely up there
Don’t you feel tired
Don’t you feel sad?

White moon
You must see everything
From where you are
And I often wonder “why are you so far”?

White moon, why do you have to be
So far away
A place where I can’t go?
Little delightful moon, tell me
What do you have to say
Tell me low…

Do you see our lives?
Do you hear our voices?
Don’t you feel like a lighting ghost?
Getting along with our noises?

Don’t you feel like coming down?
Don’t you ever get so lonely?
If you could answer all my questions
If you could, only…

Sometimes at night, I stand looking at you
When my eyes are made of tears
And whatever you are white or blue
You help me throwing out all of my fears

And so there you are up above
Floating ate the sky
You and your precious light
Flashing me with your love
Every single night
Surrounded by your innocent and silent cry!...

CS (há muitos, muitos anos atrás!)

BlogBlogs.Com.Br

11 de ago. de 2009

' Uma Janela Aberta - Poema XII.

Em cada esquina
Dobra um sino lembrando-me
Que me perdi
E que já me encontrei de novo.
Que morri e que nasci de novo,
Afinal a vida está presente até na morte.
Mas nesta existencia absurda
E absorta. E infinitamente
Finita, humana, complexa, simples.
Anónima e Renascida,
Será sempre apenas e nada mais que
uma vela, num meio de um mar de velas.
Um pequeno ser abandonado por ter que ser apenas
Somente aquilo que nasceu pra ser.. Nada.

Porque serão sempre cópias de alguéns
Em sítios repetidos
Iguais a tantos outros algures
Nas ruas sujas e imundas
Da banal existencia.
E caminham passivas e impávidas,
Massas de
Personalidades
Nomes, ilusões,
Paixões,
E rostos cansados.
Cansa-os ser. Absurdamente
Existir.
Ter maneiras absurdamente diferentes
De igual ser, de igual sentir.

E continuo porém a ser sempre mais uma alma
Presa num corpo despido.
Parte de mim quer fugir, partir
Apenas por não querer ficar.
Parte de mim quer naufragar.

E dói-me tanto naufragar-me.

CS

4 de ago. de 2009

' Uma Janela Aberta - Poema IX.

On the back door of a tavern at sunlight
I'm a whore. I am a saint. I'm a sinner.
I am the mother and the daughter.
The light and shadow.
The joy and the pain.
I'm the life and the death.
The law and the delinquency.
The housewife and the prostitute.
The child and the old grew lady full of wisdom.
I bring the best and I bring the worst out.

I do things I don't like to do, like everyone else.
Put up with horrible people, like everyone else.
Handing over my precious body and soul in the name of a future that never arrived, like everyone else.
Saying myself I haven’t enough yet, like everyone else.
Waiting just a little bit longer, like everyone else.

I was secure and full of myself,
Until one day I got totally lost on the road of life.
And that was just me. I'm a fighter, and I'm quitter.

CS

2 de ago. de 2009

' Uma Janela Aberta - Sexo Tântrico e Sagrado (prosa poética V)

Estávamos sentados à luz da vela,
O corpo tremia, o coração batia forte,
Uma garrafa de vinho ao lado de nós, transpirávamos desejo - Não desejo que vemos, mas desejo que imaginamos;
O desejo solto no ar, que vibra, que enche a vida com a vontade ferverosa de ter alguma coisa, de ter alguém;
O desejo que move montanhas, que nos dá uma sensação de completa liberdade, desejo, apenas desejo, no seu estado mais puro, no seu estado mais divino;
Desejo que é a fonte de tudo o mais além, o mais abaixo, o mais acima, o mais infinito.

Desejo que traz o prazer sexual em si. Porque foi possível a experiência prazer sexual sem sequer tocarmos no outro. Energia sexual entra em jogo antes mesmo do sexo ter lugar.

Nus,
Sem se tocarem, estavam sentados à luz da vela,
O corpo tremendo, o coração batendo forte,
Uma garrafa de vinho ao lado deles.





Em quase absoluta escuridão, ele sabia o que queria
Ele sabia o que eu queria,
Mas ele não me podia dar nada, essa foi a maçã que Eva nunca deveria ter trincado.
Colocámos uma venda nos olhos e sentimos a nossa própria respiração, o inspirar e expirar que vai, que vem -
O ar, vital, mútuo.
Sentimos extrema dor em não tocar -
Não a dor que deixa ferida, mas uma dor divina;
A dor que nos guia a um tipo diferente de paraíso;
A dor no seu estado mais puro, levada ao extremo, levada ao limite, até um lugar de imensa e misteriosa paz, de um ecxtasy religioso indescritível;
A dor que se transforma em alegria; que nos leva ao limite.
A dor que trás o único sentido à vida: o prazer.

Expliquei-lhe então que só quem conhece essas fronteiras, esses limites, da dor extrema, sabe vida. Tudo o resto é só passar o tempo, repetindo as mesmas tarefas, envelhecer e morrer sem nunca ter descoberto o que estávamos afinal a fazer aqui - a escola? o trabalho? o casamento, os filhos, a televisão, a amargura, a velhice, a sensação de ter perdido muitas coisas, a frustração, a doença, a incapacidade, a dependência dos outros, a solidão, a morte. Somos seres humanos, nascidos cheios de culpa. Sentimo-nos aterrorizados quando felicidade se torna uma possibilidade real, e morremos a querer punir todos os outros, porque nos sentimos impotentes, inúteis e infelizes. As experiências mais importantes um homem pode ter são aqueles que o levam aos seus próprios limites - sexo, desejo, amor e dor são tudo experiências extremas. Cruzando as fronteiras do nosso próprio corpo, aí sim, encontramo-nos. Só sabemos quem somos quando nos deparamos com nossos próprios limites. Mas não é necessário saber tudo sobre nós mesmos ... o ser humano não foi feito exclusivamente para ir em busca da sabedoria, mas também para lavrar a terra, para esperar a chuva, plantar o trigo, a colheita do grão, fazer o pão.

Em quase absoluta escuridão, ele sabia o que queria
Ele sabe o que ela queria,
Mas ele não lhe podia dar nada, essa foi a maçã que Eva nunca deveria ter trincado.
Era um limite inultrapassável,
O fruto mais apetecido.



Utilizando apenas o meu sentido táctil, despejei meio copo de vinho na minha taça.
Ao preparar-me para encher o seu copo, ele pegou no meu pulso, impediu-me,
Pegou na minha taça e disse - esta é uma taça que iremos partilhar.
Tirei a minha venda, tirei a venda dele, olhei-o nos olhos.
Se partilhássemos aquela taça, estaríamos já a tocar um no outro;
Estaríamos a partilhar os nossos corpos, as nossas vidas;
Agora, era tempo de partilhar apenas as nossas almas, os nossos seres entrecruzados por um espaço e um tempo que só existiram ali -
- naquele sítio onde Deus fez um círculo, há muitos milhares de anos atrás.
O pecado original não foi aquele em que Eva comeu a maçã, mas sim a sua convicção de que era necessário partilhar com Adão precisamente o que ela tinha provado. Eva tinha medo de seguir seu caminho sozinha. Bem, certas coisas não podem ser partilhadas.

Bebi o meu vinho. Fui totalmente livre na minha entrega.

Beberam o vinho silenciosamente. Voltaram a encher o copo vezes sem conta. Voltaram a bebê-lo silenciosamente vezes sem conta. Porque o silêncio era o grito mais forte.
Ali, naquele sítio onde Deus fez um círculo, há muitos milhares de anos atrás.



E então nós tocámo-nos, em seguida; continuámos a fazer o amor que tínhamos vindo a fazer horas antes -
- foi o copo de vinho que transbordou.
O sexo é quando o copo está tão cheio de vinho que naturalmente transborda.
É a abundância natural, o querer sempre mais, mesmo não querendo nada em tudo.

Ali, naquele sítio onde Deus fizera um círculo, há muitos milhares de anos atrás,
Estes dois corpos transpirados de desejo,
Exaustos de uma dor divina, de um ecxtasy religioso, existencial,
Alcoolizados pelo sangue de Deus,
Tocaram-se. Amaram-se. Os copos de vinho transbordaram. As velas apagaram-se.


Não há maior prazer do que a de iniciar alguém num mundo desconhecido -
Tirar a virgindade alguém, não a virgindade do seu corpo, mas sim da sua alma.
Eu já tinha lhe ensinado tudo que eu sabia, cada partícula de mim.
E, como boa professora, eu também aprendi algo completamente novo ao ensiná-lo.


Andavam nus, por aí, estes corpos, sem se tocarem. Experienciaram múltiplos orgasmos físicos, e tantos mais espirituais. Estiveram num sítio a que um dia alguém resolveu chamar de Paraíso. Não precisaram de falar muito, mas conseguiram chegar ao corpo, ao mais íntimo do corpo, antes de se terem tocado. Foram livres na sua entrega mútua e amaram de forma mortal sem esperar absolutamente nada em troca. Descobriram aquilo que faz o mundo girar em torno do Sol: não a procura do prazer em si, mas a renúncia àquilo que é tido como importante. That was Sacred Sex.


Autoria de CS,
Inspiração em 'Eleven Minutes', Paulo Coelho.