28 de dez. de 2007

- Anónimos


Massas.

Não passamos de massas de se deres humanos
que na sua complexidade
e por sermos governados por tão iguais seres humanos
na mesma complexidade do ser e do sistema
não somos ninguém.

E por sermos tao conhecidamente desconhecidos,
acabamos por ser anonimamente alguem,
nesses 3minutos de antena que é a vida.

É por isso que não sabemos nada: ou tão pouco.

Levamos esta vida como quem leva uma criança à escola:
porque temos, porque devemos.
Ou porque queremos e gostamos.

E o que é a vida, se não gostar e querer.
E pensar no que se pode ter?
Nada.

Talvez nem exista nada.

E é sobre isso que se debruçam os poetas inibidos.
Sobre uma ideia que constantemente se esquece de permanecer,
ou que não se lembra de ser tão genial que agradasse ao mundo cheio de regras estéticas [bonitas?].

Mas continuarei a escrever linhas sem sentido
pois há em mim uma vontade granítica e magistralmente perfeita
de ser alguém numa massa cheia de ninguéns.

Tanto quanto o mar tem de gotas, o céu de estrelas e o mundo de mentira.

Apenas uma mentira.

Mais uma.

C.S.


~thegirlwithnoname~

21 de dez. de 2007

- Rosas do teu pensamento

Fechei a porta, devagarinho
Para ninguém perceber
Que a unica verdade do mundo está
Em dizer que o nosso saber
É uma mera cópia
E tentativa de entender
Que as rosas do teu pensamento
Ilícito e pecatório
São as mais puras do jardim do Mundo.
Será este pedacinho de palavras
O pedacinho que escreverei hoje?
Serei eu Aquela
A continuar essa linda história?
Mas que vida seria a minha se assim não fosse?
E o que seria a vida senão mero resultado da morte
Tentando decifrar o mistério por detrás das coisas
E não percebendo que esse mistério
É o que lhes confere beleza?
Que sentido terá isto, senão ter sentido nenhum?
E que verdade será essa,
Se não for mero da mentira desmentimento?
Por detrás deste som anónimo
Quem será ele?
Aquele que apenas terá que ser
Aquilo que quer que sejam para ele...

~thegirlwithnoname~

18 de dez. de 2007

- E, no fim...

A minha mente escreve
Mas não se lembra do que escreveu
Por entre palavras dissipadas
Ela pensa
Mas não se lembra do que pensou
Por entre pensamentos
Ilícitos
E sentimentos insípidos
Que a minha mente sentiu
Mas sem se lembrar do que a feriu.
Mas e então? Há as pessoas que pensam muito
Mesmo
Muito nas coisas
Há as pessoas que se sentem sós
No meio de tanta gente igual a elas
Apenas por pensarem diferente
Por quererem descrever a diferença.
Mas, depois, no fim...
Basta apenas o silêncio acompanhado
Do som da chuva e dos ponteiros do relógio
E Aquele Alguém do nosso lado a acariciar-nos
Enquanto, de olhos fechados, nos perdemos
Na única liberdade que nos é concedida:
A nossa mente.
Que escreve, que pensa, que sente, sem se lembrar.

C.S.
01-11-2007


~thegirlwithnoname~

8 de dez. de 2007

- Tudo o resto

Destemperada estava eu
Na cama, mas não
Resisto à tentação
Nem renuncio à sensação
De estar apaixonada (por mim?),
Como quem ama
Esta redoma
Que encerra, de resto,
A mente humana.
Tudo o resto é observação
Paixão, opinião
E uma vida levada
(do nada?)
De quem mente
Constantemente.
Tudo o resto é uma cidade
São as luzes dessa
Saudade
E da sensação da vontade
De sentir tão somente.

( C.S., 6-11-2007 )
~the girl with no name~

1 de dez. de 2007

- Não me fales sobre a vida

Não fales comigo sobre a vida.
Não me digas o que pensas saber
O que todos pensam saber
E o que todos querem saber.
(saber, o q é saber?)
Não fales comigo sobre o que está
Certo e errado
O que é correcto e reprovável
O deus que existe e nos vê
Que tudo pode e todos castiga.
Não fales comigo sobre sentimentos.
Não me digas que
tenho de me resignar à realidade
De que estes são meras reacções químicas
Do nosso cérebro,
Se é que este existe,
E se realidade existe de facto.
Não, não fales comigo
Sobre a razão de ser dos seres, e do ser
E do nada
E do tudo
E do que se pensa saber
E daqueles que pensam saber
O que apenas querem entender.
Não me fales em filosofia
Nem em matemática
Nem em todos os saberes construídos pela humanidade
Não me digas, por favor, que tenho de me cingir
A esta pobreza de espírito dos homens
Que é quererem saber tudo
Até aquilo que não se pode saber.
Não me digas que tenho que me cingir
E tenho que falar contigo
Sobre algo que acontece, ou que pensamos que acontece
Porque o vemos. Porque pensamos que o vivemos.
Não, por favor, não me lembres
Que vivemos n’algo que se chama realidade
Que temos regras e normas orientadoras
Em que tudo tenta e pode ser explicado
Em que até os sentimentos podem ser cientificamente provados.
Não me lembres, por favor, que até se eu tentar escrever algo
que tenta explicar o porquê de me sentir tão só no meio de tanta gente
igual a mim
seja apenas pelo motivo de mais tarde vir a ser analisado
um texto, um poema
palavras que deviam ser lidas e guardadas
e nunca entendidas.
Nunca.
Por isso não fales comigo sobre a vida.
Amanhã acordarei de novo e me rendirei de novo
À pobreza de espírito que criou aparências e corrompeu mentes
Como a minha, a tua, a deles.
Amanhã acordarei de novo e te direi:
Não fales comigo sobre a Vida, porque eu tenho de me cingir a ela.

C.S.
(30-10-2007)

~the girl with no name~