6 de jan. de 2011

' "Filosofar é aprender a morrer."

Nestes últimos tempos tenho andado numa crise existencial... constantemente a colocar-me questões a mim própria às quais sei que nunca vou conseguir responder... deixei que a minha mente fosse por caminhos perigosos, daqueles que, uma vez que se entra, já não se consegue sair... (o mais irónico é que entrei por estes "caminhos" aos 15 anos, quando comecei a escrever aqueles poemas que nem todo o mundo entende na sua essência, mas enfim, eu sei que entendo, e depois dessa fase fartei-me de me questionar a mim mesma e entreguei-me completamente à trivialidade da vida e às coisas mais superficiais... agora deu-me para voltar)... não estou deprimida e já pensei em suicidio mas nunca em cometê-lo na realidade... porque amo demasiado a vida. o que é contraditório... desde os 15 anos que penso nestas coisas. fecho-me em copas, e simplesmente penso. muitas das vezes quero exprimir-me por palavras e não consigo. consegui expressar-me em alguns dos meus poemas, a partir daí parece que perdi "a coisa"... sei que só ando a pensar, e a pensar, e a pensar... no absurdo da vida. no absurdo completo que é a vida. de como tudo é completamente repetitivo, até a própria existência... ninguém é ninguém, todo o mundo é simplesmente cópia... eu não sou eu, eu sou uma cópia de alguém... provavelmente nunca serei ninguém... (e esta questão mais "filosófica" leva-me sempre sempre sempre a uma questão de índole mais prática, que é "eu não sei o que quero da vida")... de como tudo é completamente absurdo... parar para pensar de onde tudo veio e para onde tudo vai e, afinal, o que raio estamos aqui a fazer... dêem os argumentos que derem "estamos aqui para procriar", "estamos aqui porque deus nos criou" (e a questão da religião é outra que dá pano para mangas, mas para resumir a coisa, para mim é simplesmente uma forma que as pessoas encontraram para depositarem tudo o que de bom e mau acontece e até mesmo todas estas perguntas, num ser divino e superior, que "dita" o que está certo ao errado, no qual depositamos fé e esperança numa vida após a morte, enfim... uma fachada total), vai tudo dar ao mesmo... a um gigante e redondo PORQUÊ. o porquê de tudo existir, o porquê de tudo ter começado, se alguma vez começou (ninguém sabe, quando chegámos cá já tudo existia simplesmente), o porquê de tudo simplesmente ser, se tudo um dia vai simplesmente acabar... o tempo, atrofia-me... o tempo é uma questão que me confunde... a questão do ser humano ter sentido a necessidade de ter criado algo que cronometrasse o tempo, aliás, por ter criado a própria noção de tempo, por sentir necessidade de se orientar... orientar... regras, normas sociais, leis... sem elas, o que seríamos? verdadeiramente livres... verdadeiramente livres? nunca seríamos felizes assim... na verdade, a liberdade é uma completa falácia... viveríamos no completo caos e desordem... no fundo, temos tanta necessidade (pelo menos eu) de quebrar regras e de revoltar-se contra padrões e critérios universais do que é aceite ou reprovável, contra juízos de valor nos quais acabamos por cair nós mesmos inevitavelmente... mas a verdade é que sem tudo isso viveríamos num completo abismo, um buraco negro para o qual seríamos sugados, um caminho sem fim e sem retorno, o ciclo vicioso do sem-sentido... depois de pensar nisto, chego à conclusão de que não vale a pena... que pensar nestas coisas só por um dia me cansa tanto psicologicamente, ao ponto de me deixar exausta, quanto mais pensar uma semana, um mês, um ano, uma vida inteira!... e nunca chegar a uma solução... diz-se que o ser humano é racional e por isso terá mais vantagem sobre os outros animais, no entanto, não vejo a coisa dessa forma... quanto mais consciência e racionalidade temos, mais dúvidas colocamos, menos respostas obtemos, mais infelizes nos sentimos... há alturas em que penso mesmo, mais valia viver na ignorância e ser feliz... não aguentamos de tanto conhecimento, de querermos sempre conhecer mais porque achamos que nunca conhecemos o suficiente... e procuramos, mais e mais, mais e mais, e quanto mais procuramos, menos encontramos, a menos conclusões chegamos e mais dúvidas surgem... então chegamos à conclusão de que o melhor será mesmo aceitar o absurdo completo da simples existência e viver com isso... entregarmo-nos às trivialidades do dia-a-dia, ao trabalho, à faculdade, aos amigos, ao namorado/a, à série de televisão, ao facebook, aos blogs, à satisfação das nossas necessidades mais básicas, ao sexo e aos prazeres carnais e efémeros, ou às coisas que achamos belas e geniais na vida, como aquela música que nos toca em todos os aspectos e que somos capazes de ficar um fim-de-semana inteiro a ouvir, ou ir a um museu contemplar as mais belas obras de arte alguma vez feitas, ou viajar pelo menos uma vez por mês e conhecer pessoas e culturas diferentes da nossa... fazendo um esforço para nos esquecermos de que há e sempre vai haver aquela dúvida existencial, a maior dúvida de sempre, mas que, como nunca lhe vamos conseguir dar uma resposta, mais vale então habituarmo-nos... como quem diz deal with it, chegaste aqui, nasceste, vives, não te mates porque concerteza tens alguém que te ama no mundo e como ser altruísta que deves ser não deves ser egoísta ao ponto de tirares a tua própria vida e deixares alguém a sofrer por cá...  mas que tudo isso que vives não tem importância absolutamente nenhuma... sejas tu, anónimo, ou o Barak Obama, vai tudo dar ao mesmo... somos iguais por dentro, temos o sangue da mesma cor e, como seres humanos irremediavelmente condenados à trivialidade e efemeridade, não somos absolutamente nada senão a repetição de alguém... por isso, das duas uma, mata-te ou conforma-te, simplesmente, não há nenhuma outra saída...

não sei que se passa comigo... ando a ler Nietzche, ando extremamente existencialista e niilista... neste momento vivo no absoluto caos que é a minha mente.

e tudo isto começou pela coisa mais absurda de sempre... uma cadeira, na faculdade, que odeio, e que quando me sentei para estudar e quis bater com a cabeça nas paredes... quando recebi as notas e vi que tinha tido dois míseros 14's (eu sou exigente comigo própria e 14 é médio a mandar para o mau) depois de me ter esfalfado em 2 trabalhos... dei por mim a pensar... PORRA, esta merda não me faz feliz, provavelmente só me faz ganhar rugas e eu devo morrer jovem, porque é que eu estou a perder tempo com isto... isto não interessa para nada, no fundo, no background do que é a minha vida inteira, isto não interessa absolutamente nada... but then again, que remédio tenho eu senão fazer algo da vida nem que seja com o último propósito de sobreviver e ir sobrevivendo para acabar por morrer... que remédio tenho eu, com a crise que está e com toda a gente (sobretudo os meus pais) a mandarem-me esse facto à cara, senão trabalhar para um pequeno vislumbre de um futuro que se diz ser melhor... mas que na verdade vai ser uma merda, porque nunca tive um time off para pensar o que realmente queria da vida, e nem me podia dar a esse luxo... por vezes sinto que fui forçada a crescer demasiado rápido, ainda que tivesse sempre mantido o meu mundinho cor-de-rosa para salvaguardar a minha sanidade mental.

toda e qualquer motivação foi-se, vai-se, um pouco mais todos os dias, faço as coisas por obrigação, a pensar que sim senhora, adoro psicologia, mas que provavelmente não me vai levar a lado nenhum... vai levar-me onde? a tirar um curso, arranjar um emprego, dentro de um consultório ou de um escritório, onde vou estar todos os dias das 9h às 17h, para conseguir pagar as contas ao fim do mês, escrever uns quantos livros se tiver sorte e inspiração, constituir família, cuidar dos filhos, envelhecer, reformar-me, cuidar dos netos, e eventualmente (aliás, de certeza), morrer... é isso mesmo... "Há quem diga que a vida é como uma longa caminhada. Que grandes caminhos se percorrem começando por dar um pequeno passo. Que partimos de um princípio, e chegamos à felicidade, simbolizada pelo fim desse grande caminho. Eu acho que a vida é uma caminhada que vai sempre dar ao mesmo. Não é em frente, como na proposta que referi acima, mas sim para os lados. Podemos dar um, dois, três passos, ou os que forem, para a esquerda ou para a direita. Mas voltamos sempre ao mesmo. Voltamos sempre àquele ponto inicial, que coincide com o final. Onde o nascimento se cruza com a morte... no fundo, acabamos sempre onde começámos. Dermos os passos nas direcções que dermos. Acabamos sempre onde começámos e tudo o que fica pelo meio, é só isso... tudo o que fica pelo meio. Nada mais, nada menos." (daqui, por mim).

Sempre filosofei muito. Demais até. Até doer. Doer mesmo, doer na alma. Não sei se tive algum trauma de infância em relação à morte, se tive não me lembro, mas nunca consegui lidar bem com a mortalidade das pessoas e a finalidade das coisas em geral. Há momentos em que me sinto como uma criança que se confronta com a morte pela primeira vez. Ainda não tendo aceitado bem a questão da mortalidade, chegar à conclusão de que a morte/o fim é absolutamente inevitável a tudo o que vive, é dose demais para mim. "Filosofar é aprender a morrer". José Saramago.

4 de Janeiro de 2011 à noite... o meu avô paterno morreu. só soube agora. não o conhecia, still meu mundo inteiro ruiu. ainda mais. se estive quase o dia inteiro de hoje a chorar, foi por pressentimento, por presságio, de certeza, uma espécie de sexto sentido, e eu nem sou de acreditar nessas coisas, mas raras são as vezes em que acordo e me apetece simplesmente chorar, compulsivamente, chorar e chorar apenas. estou mais triste pelo meu pai. as forças esgotaram-se. estou tão angustiada que nem consigo chorar. não tenho mais lágrimas. Descansa em paz, Avô.

' One step at a time...

Há quem diga que a vida é como uma longa caminhada. Que grandes caminhos se percorrem começando por dar um pequeno passo. Que partimos de um princípio, e chegamos à felicidade, simbolizada pelo fim desse grande caminho.

Eu acho que a vida é uma caminhada que vai sempre dar ao mesmo. Não é em frente, como na proposta que referi acima, mas sim para os lados. Podemos dar um, dois, três passos, ou os que forem, para a esquerda ou para a direita. Mas voltamos sempre ao mesmo. Voltamos sempre àquele ponto inicial, que coincide com o final. Onde o nascimento se cruza com a morte... no fundo, acabamos sempre onde começámos. Dermos os passos nas direcções que dermos. Acabamos sempre onde começámos e tudo o que fica pelo meio, é só isso... tudo o que fica pelo meio. Nada mais, nada menos.