29 de mar. de 2008

- Beleza Vs. Mensagem II

Estou cansada que me perguntem
‘o que raio fumaste antes de escrever isto?’
Depois de acharem a maior idiotice à face da terra.
Será que não conseguem ver a falsidade dos poemas bonitos?
Sim, aqueles que rimam, aqueles harmoniosos
Aqueles que falam em: flores e amores, dor e amor.
Supérfluo.
Prefiro escrever assim: uma coisa horrorosa,
Mas ao menos poder dizer que é uma coisa horrorosa
Que saiu cá de dentro
E está transposto para o papel (quase) tal e qual
Quanto a ideia nasceu na mente, na alma.

Se um dia escreverem uma biografia minha,
Apenas digam que sou uma anónima, e não sou ninguém.
Apenas digam que gosto desta vida sossegada e que a vivo o mais que posso
(e se não vivo mais e melhor é porque não quero)
Não quero que me conheçam por fazer isto ou aquilo.
Eu mudo o mundo, existindo, tal como tu, que estás aí a ler desse lado.
Que interessa quem fez? Interessa, sim, o que fez!
E por isso espero um dia poder ter o orgulho de ver as minhas ideias –
- por mais estúpidas que sejam –
Expandidas,
E poder continuar a ir tomar café onde vou todos os dias,
Poder continuar a passear e a admirar as fantásticas ruas da cidade de Lisboa ao fim de tarde,
Poder continuar a ir jogar car races no salão de jogos das Amoreiras.
Enfim, poder continuar a parecer a pessoa que transpira mais normalidade à face da Terra.
Quero poder continuar a viver neste cubículo, igual a tantos outros no Mundo:
...e que sou eu, senão mais uma cidadã do Mundo?...

C.S.,23-11-2007

мєηιηα νσgυє @

24 de mar. de 2008

- Beleza vs. Mensagem I

Não há certo nem errado: há argumentos.
Não há bom nem mau: há o Homem.
Todos os poemas, ou são lindos,
ou têm uma mensagem.
E a maior fraqueza da razão é entender tudo
excepto que não pode entender nada:
a mensagem de um poema feio,
nem as palavras em mim,
nem eu nas palavras.
E este, que tal? Está simples, directo?
Está lindo, ou antes tem mensagem?

мєηιηα νσgυє @

20 de mar. de 2008

- Vida efémera, pensamento eterno.

Tudo o que vivemos é isso mesmo, tudo.
Mas tão pouco – tudo o que pensamos
É nada. É a vida. É tudo.
A vida passa numa rajada de vento.
Numa gota de chuva. Num raio de sol.
No fim, nada resta senão a sensação
De que foi tão rápido, de que foi tão efémero.
Mas no pensamento fomos tudo – e nada.
Porque sendo nada nem nada vivendo,
Fizemos tudo, vivemos tudo, tivemos tudo,
Amámos tudo porque tudo nos bastava
Assim só, só porque sim, sem porquês.
Porque sentimos tudo,
Respirámos as sensações
E apenas porque o sonho existiu. Apenas
Porque eu e o sonho coexistimos.
E tudo bastou, tudo bastou.
Ali, assim, como era,
Disperso, compacto, unicamente único.

CS

мєηιηα νσgυє @

12 de mar. de 2008

- Não sou poetisa.

Não sou poetisa.

Apenas vivo em poesia, sem a escrever.
Vivo em silêncio num mundo gritante.
E vivo num choro
Sem derramar uma só lágrima.
Respiro liberdade
Num mundo tão cheio de regras.
Vivo para as sensações,
Quando todos procuram explicações,
Análises! Entendimento nauseante...
Ah! Que lógica entediante.
Que sono de não entender,
Que fome e sede de apenas ser...
Existir e ser e nada, e nada mas
E tudo ser.

Isto sim, é poesia.

Mas finjo. Finjo
E sempre fingi.
Qual teatro, qual encenação
Absorvida por sonhos, interpretada
Sem nunca o dever ser.

Mas sou banal. Sou banal
E sempre fui...
...banalmente importante.

Então fui, e sempre fui.
E fui, e importei, e finji,
E esqueci: e nunca ninguém soube.
E se soubessem, o que saberiam?

Talvez tudo e nada,
Talvez o soubessem saber
Talvez o devessem saber?
E talvez soubessem
Perceber que o mistério
Das coisas é precisamente e tão somente:
Percebê-las, analisá-las, explicá-las.

Amar? Não, nunca.
Amar com sentido, nunca.
O único mistério é não
(apenas) amar,
É não amar com sentimento,
Amar com sentido.

Ah, sensações...

мєηιηα νσgυє @

2 de mar. de 2008

- Hoje nada importa.

Quando posso, deixo de ser
Eu.
E vou para o deserto, deserta de ser
Ainda mais eu.
Quando consigo, desprendo-me
E vou.
Longe do que fingo ser,
Longe do que sou,
Ainda mais longe do que penso ser –
- e, afinal, quem sou?

Hoje nada importa.
Alguma vez importou?
Fechei a porta
Devagarinho, ninguém reparou.
Se alguém alguma vez reparar, então
Fecho as janelas do sonho para sempre, então
Vou para o deserto para sempre, e então?
Hoje nada importa.

CS

мєηιηα νσgυє @