2 de jan. de 2008

- Finge.

Finge.
Finge que nasces, para fingires que existes.
Finge que cresces e aprendes.
Finge que estudas para um dia puderes dizer a fingir que estudaste.
Finge saberes para te deixarem fingir ser alguém.
Finge parecer, finge até ser. Mas não te esqueças de fingir,
Nem finjas que te esqueces que estás a fingir.
Finge sentir e escrever palavras que um dia vão ser lidas por pessoas que fingirão entendê-las.
Finge a vida, finge o próprio fingimento.
Finge que as palavras fecundam as ideias
Tal como a água do mar fecunda a areia da praia.
Finge seres poeta – finge quereres ser.
Mas, por favor: finge.
Porque eu continuarei a fingir
Que escrevo muitos poemas.
Que os escrevo antes das teses.
Continuarei a fingir
Que escrevo muitas teses,
E que as escrevo antes dos poemas.
Finjo que não falo à toa e finjo tanto
Que chego a ouvir uma voz que constantemente me pergunta:
‘porque fizeste este poema?’
E eu respondo:
Porque posso andar pelas ruas, anónima,
Sem ninguém saber.
Mas finjo acreditar que eles conhecem esta lenda, e
Que tudo não passa de um lindo Poema.

C.S., 15-11-2007
SHINING*

3 comentários:

Anônimo disse...

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Fernando Pessoa

Vitor disse...

Gostei dessas palavras a fingir...

beijo, se me for permitido claro :-)

Rosa disse...

Fingir, então está bem, e quando é que se pára de fingir?