14 de jun. de 2009

' Uma Janela Aberta - Vida II.

Não fales comigo sobre a vida.
Não me digas o que pensas saber
O que todos pensam saber
E o que todos querem saber.
(saber, o q é saber?)
Não fales comigo sobre o que está
Certo e errado
O que é correcto e reprovável
O deus que existe e nos vê
Que tudo pode e todos castiga.
Não fales comigo sobre sentimentos.
Não me digas que
tenho de me resignar à realidade
De que estes são meras reacções químicas
Do nosso cérebro,
Se é que este existe,
E se realidade existe de facto.
Não, não fales comigo
Sobre a razão de ser dos seres, e do ser
E do nada
E do tudo
E do que se pensa saber
E daqueles que pensam saber
O que apenas querem entender.
Não me fales em filosofia
Nem em matemática
Nem em todos os saberes construídos pela humanidade
Não me digas, por favor, que tenho de me cingir
A esta pobreza de espírito dos homens
Que é quererem saber tudo
Até aquilo que não se pode saber.
Não me digas que tenho que me cingir
E tenho que falar contigo
Sobre algo que acontece, ou que pensamos que acontece
Porque o vemos. Porque pensamos que o vivemos.
Não, por favor, não me lembres
Que vivemos n’algo que se chama realidade
Que temos regras e normas orientadoras
Em que tudo tenta e pode ser explicado
Em que até os sentimentos podem ser cientificamente provados.
Não me lembres, por favor, que até se eu tentar escrever algo
que tenta explicar o porquê de me sentir tão só no meio de tanta gente
igual a mim
seja apenas pelo motivo de mais tarde vir a ser analisado
um texto, um poema
palavras que deviam ser lidas e guardadas
e nunca entendidas.
Nunca.
Por isso não fales comigo sobre a vida.
Amanhã acordarei de novo e me rendirei de novo
À pobreza de espírito que criou aparências e corrompeu mentes
Como a minha, a tua, a deles.
Amanhã acordarei de novo e te direi:
Não fales comigo sobre a Vida, porque eu tenho de me cingir a ela.


CS

1 comentários:

Anônimo disse...

Falar sobre a vida cansa tanto como a própia vida!