24 de mar. de 2009

' Poema.


Comprei esta tela branca ao preço do silêncio...
Quero pintá-la. De transparente, talvez.
Choveram vitrais perfumados
E ideias coloridas.
Mas sujaram-me a tela de um Humano horrendo !
Abandonei-me, então, de sonhos,
Por serem tão Humanos. Queimei-me em velas
Até me perder numa bruma.
Mas... shh ! ainda oiço !
As auréolas dos anjos a cintilar !
Ainda escuto ! as canções tristes que me alegravam.
Os girassóis, o sol, o céu, as estrelas, a lua.
Ainda me vejo. Em douradas pradarias.
Ah ! e as casas de madeira...
(ainda sinto a brisa, e por saber senti-la sinto ainda que nunca
Haveria de o ter feito).

Hoje, escondi-me. Abandonada e absorta
De toda a luz com que fui abençoada, outrora.
Sou como uma flor que murcha sem sol,
Por não haver vida.
Quis tão pouco. E era tanto para este Mundo:
Tão pequeno !
Despi-me e, nua, pintei-me de Humana nesta tela.
Alheei-me. Pintei o alheamento
No silêncio. Nas palavras não ditas
Desenhei jardins, e flores, e sorrisos,
Com lágrimas escondidas.
Ao fundo, uma catedral. Olha os vitrais ! antes perfumados, agora
Obscuros. Secretos.

Pintei a tela de Humano.
Ela canta, hoje, o silêncio.
Esconde um pranto cego.
O som dos sinos sai calado.
E eu, Deliro !

CS, 04.08.08

21 de Março - DIA MUNDIAL DA POESIA @

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